A morte do jornal A Cidade
- Max Wagner
- 31 de out. de 2018
- 3 min de leitura
Atualizado: 1 de nov. de 2018

Hoje, dia 30 de outubro de 2018 foi uma data muito triste para mim. Com grande pesar, adquiri numa banca um exemplar da última edição do jornal A Cidade. Caminhando cabisbaixo e folheando as notícias cheguei ao Arquivo Público e Histórico de Ribeirão Preto, ali entreguei o jornal nas mãos do Rodrigo Menezes - Chefe do Arquivo. Rodrigo, eu, e o Gabriel - Tesoureiro da Associação Amigos do Arquivo conversamos durante um tempo sobre a notícia tão triste, salientamos que essa última edição daqui a alguns anos se tornará relíquia e uma das joias do Arquivo. Discorremos também sobre o inevitável! O inevitável é que os formatos impressos com o tempo serão substituídos pelos formatos digitais.
Temia-se pelo fim do jornal A Cidade desde que foi adquirido pela EPTV em 2006, mas no fundo todos tinham esperança pela sobrevivência do jornal mais importante de Ribeirão. Ao entrevistar alguns donos de bancas, eles me disseram que o fim da versão impressa era uma grande tristeza, salientaram que conseguiam vender 30 exemplares por dia durante a semana, e aos finais de semana ultrapassavam os 100 exemplares, disseram ainda que era desnecessário o fechamento do jornal impresso. Quem sou eu para julgar, não cabe a mim dizer se a EPTV tinha condições de manter ou não o jornal, eu apenas informo o que vi e ouvi.
114 anos de História - Esse é o legado que o jornal A Cidade deixa para nós. Muitos lutaram pelo periódico que também deu voz a grandes personagens: Coronel Quinzinho Junqueira, Enéas Ferreira da Silva, Major Durval Vieira de Souza, Renato Barillari, João Palma Guião, Sebastião Fernandes Palma, Orestes Lopes de Camargo, D. Amália, Jandyra e Juracy. O jornal foi o grande porta-voz do Partido Republicano Paulista (PRP). Ele agora se rende à versão digital, através da plataforma Acidade On, mas isso não diminui a perda do emprego de vários amigos jornalistas, e não substitui a falta que os artigos deles nos farão. O que sobrou do jornal impresso foram edições espalhadas no arquivo EPTV, Biblioteca Padre Euclides, Arquivo Público e Histórico de Ribeirão Preto, em coleções particulares de vários apaixonados, entre eles o saudoso Nicola Tornatore, mas principalmente na memória dos ribeirão-pretanos.
Eu trabalho com mídias digitais há algum tempo, em 2014 durante uma palestra na Feira do Livro de Ribeirão Preto eu abordei um assunto que ainda gerava muitas discussões "os livros digitais" algumas pessoas saíram escandalizadas quando eu afirmei que o livro impresso perderia muito espaço para o livro digital. É bem verdade que mesmo depois de quatro anos, as vendas dos livros digitais hoje ocupem apenas 3% no mercado editorial brasileiro, mas o que alguns não falam é que 30% da população lê no formato digital, as vendas podem não ser expressivas, mas a leitura nesse formato é, porque hoje muito do que é lido nesse formato é de maneira gratuita.
Eu nunca vivi das vendas dos meus livros, e se eu pudesse distribuí-los gratuitamente eu o faria, é claro que uma visão assim mesmo que democratizasse a leitura, se colocada em prática arruinaria o mercado editorial, e no fim, não é isso que eu desejo. Não acredito que o livro impresso e tantos outros formatos de publicação serão extintos, mas infelizmente, a história desses formatos será a mesma do vinil que virou CD, depois pendrive. O livro impresso evoluirá para o formato digital, e nas próximas décadas diminuirá muito. Só espero que não se torne peça de colecionador assim como aconteceu com o vinil. O livro impresso ainda possui uma força muito grande, entretanto a diminuição do público nas bibliotecas privadas e públicas, o fechamento de livrarias e jornais tradicionais, e a falência no mercado editorial estão matando os livros impressos aos poucos, triste realidade.
Estamos vivendo a Era Digital, o tempo do instantâneo, do efêmero, e quem não se adaptar a essa triste realidade ficará fora do mercado de trabalho. Primeiro, as máquinas substituíram o trabalho braçal deixando muitos desempregados, quem não aderiu à Era Industrial ficou sem condições de subsistência. Agora, a informação e o mundo digital estão substituindo o trabalho industrial.
O mundo realmente está em franca expansão, será que sobreviveremos a isso? Espero que sim, e lutando por mais uma etapa na preservação do Arquivo Público e Histórico de Ribeirão Preto, aderindo à Era Digital, trabalhando com empenho na nova fase do Arquivo, a digitalização dos seus documentos. Nossa missão é continuar preservando e divulgando o material físico do Arquivo, mas também compartilhando o material digital que ainda está nos primeiros passos, mas que aos poucos conquistará passos gigantes. Que possamos conviver com as mídias impressas e digitais por muito tempo, essa é a grande esperança do "Arquivo Público e Histórico de Ribeirão Preto" convivendo com o antigo e o novo, trazendo o passado e a história para a nossa presente realidade.
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